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Da Moita à Chamusca, passando por Alcácer…

Regressado de férias e às corridas em Portugal, decidi ir no passado dia 15 de Setembro à Moita do Ribatejo para a assistir à corrida de encerramento da Feira Taurina das Festas em Honra de Nossa Senhora da Boa Viagem. O cartel parecia prometer: seis Ganadarias históricas em concurso, Veiga Teixeira, Fernandes de Castro, Ascensão Vaz, Prudêncio, Grave e António Silva, com três cavaleiros de primeira linha, João Moura Jr, João Telles Jr e Francisco Palha, bem como dois dos melhores Grupos de Forcados Amadores, os de Évora e os de Alcochete.

Uma corrida que parecia não ter no final grande história. Não houve boas faenas, nem pegas a merecerem especial realce e mesmo os toiros - salvo o toiro de Murteira Grave que ganhou merecidamente o prémio de bravura e o jabonero de Ascensão Vaz que, sem ser bravo, permitiria alcançar êxito - não deixaram matéria para fixar a memória.

No quarto da noite, um Prudêncio que fora toureado por João Moura Jr, para a cara saltou à arena o Fernando Quintella dos Amadores de Alcochete, que, após dedicar a pega ao Manuel Pinto em memória do irmão deste, José, antigo forcado de Alcochete, que falecera no dia anterior, chamou de largo, num estilo irrepetível, que é o dele - lento, solene, quase discreto, mas distinto, senhoril… - reuniu bem e, após uma viagem dura, foi desfeiteado já próximo das tábuas com o grupo a ajudar. Recuperou, chamou de novo, mantendo inalterada aquela sua postura serena, o toiro reuniu alto, parecendo tê-lo atingido no queixo deixando-o imediatamente inanimado, levando-o ainda consigo alguns metros e arrojando-o à arena sem sentidos. Rapidamente auxiliado pelos companheiros, foi levado de maca para a enfermaria. Num ápice, e com toda a sobriedade que o momento requeria, o “cabo” Nuno Santana pegava com enorme segurança o toiro. E, tudo indicava, que nada fora mais que um pequeno percalço e que, quiçá, até ao fim da corrida, com o Fernando reanimado, tudo se recomporia…

Para o fim, já regressados a casa, o amanhecer reservava-nos a pior das notícias e o pior dos desfechos: com o termo das Festas, também a vida do Fernando terminara entre nós. Uma dor enorme e inexplicável para a colhida aparentemente inconsequente que víramos na Praça.

Depois do enorme choque que fora a morte do Pedro Primo dos Amadores de Cuba poucos dias antes, ninguém estava preparado para mais este choque, que nos esmagou a todos, familiares, amigos, forcados e não forcados, aficionados e deixou particularmente entristecido o mundo taurino e o País. As manifestações multitudinárias de pesar, de proximidade, de comunhão, de Fé verdadeira, em Murfacém, no Monte da Caparica, em Alcochete, permitiram, cremos, tornar mais consonante a dor, que sentíamos insuportável, dos pais, irmãos, família e companheiros do Grupo de Alcochete. A Fé lúcida e sólida na esperança fundada de que o Fernando estará já na Glória de Deus, e de que os pais deram o primeiro e perfeito testemunho, permitiram-nos a todos enfrentar o momento com serenidade. Fernando, descansa em Paz…

Com um ambiente difícil decorrente daqueles acontecimentos, foi-nos anunciado que, muito brevemente, no dia 30 de Setembro, ocorreria um festejo em Alcácer do Sal, em que o Grupo, acompanhado do seu histórico rival, pegaria uma corrida dos legendários toiros de Miura e Murteira Grave.

Os mais velhos, mais cépticos, não queríamos esta corrida neste fim de Época e nesta hora... Depois de um ano em que viu deixarem de actuar alguns elementos que pareciam constituir o seu pilar, o Grupo precisou de se renovar e de arriscar, com êxito, novos valores. A exigência foi grande e foi-lhes pedido que, com alguma escassez de oportunidades atento o número de actuações disponíveis, atingissem níveis de performance que mantivessem o Grupo confiado e motivado. A corrida de Alcácer, com aqueles oponentes, não parecia vir no melhor momento.

O João, nosso “Cabo”, aceitou e bem a corrida. A expectativa era enorme e o espectáculo, não enchendo, acabou por ter uma boa casa, tendo como principal atrativo a actuação dos forcados perante tais opositores.

Não mo confessou, mas seguramente em tributo do Grupo e pessoal ao momento de luto único e trágico por que passou - e passa ainda - o mundillo dos forcados, na primeira corrida em que o Grupo actuava na sequência da morte daqueles companheiros, entendeu dever abrir praça, com o primeiro toiro, de Murteira Grave. Um toiro em que João Moura não conseguiu obter êxito.

O João dedicou a pega à memória dos seus companheiros falecidos e chamou de largo. O toiro arrancou com prontidão e rápido, o João procurou encurtar espaço e carregou-o, sem contudo evitar que aquele reunisse alto e de modo violento, não lhe permitindo recuperar. Ao segundo intento, tudo se passou igual no que concerne à investida, tendo o João procurado recebê-lo um pouco mais após os médios, reunindo alto, mas desta vez, depois de sair da córnea, retomando-a na viagem, mas acabando por sair, num derrote em que o Grupo não conseguiu ajudar eficazmente. Claramente combalido após a segunda tentativa, fez com enorme esforço mais quatro tentativas em que faltou algum discernimento colectivo, designadamente no auxílio ao “Cabo” na colocação correcta do toiro (saiu nestas últimas tentativas sempre à esquerda da Porta dos Cavalos, do local onde havia denotado a sua principal crença durante a lide equestre…). Numa altura em que o “Cabo” estava particularmente abalado e a ter de responder mais com o coração do que com a cabeça, é preciso alguém lá dentro mais conhecedor e mais maduro, que o ajude também a ele…

Para o segundo toiro que coube ao Grupo, um Miura, que o Francisco Núncio não conseguiu lidar, alto de agulhas, saltou à arena o Salvador Ribeiro de Almeida. O toiro dera sinais nos capotes de não humilhar e expectavelmente reunir alto. Assim aconteceu, com a agravante de o Salvador o não ter carregado convenientemente e ter esperado por ele… pelo que, praticamente, o atropelou. Mais uma tentativa nos mesmos moldes, acabando por ter sido pegado de recurso e nos tércios à terceira tentativa. Ficou-nos a percepção de que se o Salvador o tivesse carregado à primeira, com maior ímpeto e decisão, teria permitido uma pega com êxito. O Salvador tem tido uma época a correr toda ela bem. Os Miuras são assim, podem criar percalços…

Para o quinto toiro, de Murteira Grave, - algo manso e difícil, que Luís Rouxinol lidou com acerto -, saltou o Manuel Murteira, recém regressado e muito bem vindo. Dedicou a pega à sua Mãe Teresa e encheu a Praça com o modo decidido e galhardo como chamou o toiro e o carregou. Recuou bem e fechou-se com perfeição, acabando por descair na cara perto das tábuas, restando a dúvida se, apesar de manter um dos braços numa das hastes do toiro, a pega estaria consumada. O “Cabo”, e bem, na dúvida (que muitos não tiveram), considerou que só se dissipava com uma nova tentativa. Mas o dia não começara fácil e difícil haveria de terminar… pois que só após mais três tentativas foi possível consumar a pega, num toiro que, de tentativa para tentativa crescia em sentido e dificuldades no momento da reunião. O Manuel deixou, porém, a imagem de um Grupo que - numa tarde em que nada correu bem e que, por isso, não pôde dar uma volta à Praça – estava de todo inconformado com a actuação e não a queria repetida. Manuel, o Grupo ficou particularmente feliz com o teu regresso e o teu enorme gesto de serviço e afición. Esperamos continuar a contar com a tua qualidade técnica e a atitude que tens em praça.

Uma palavra de felicitação para o Grupo de Forcados Amadores de Montemor-o-Novo que, nesse dia, conheceram um êxito redondo, com três pegas muito conseguidas, todas ao primeiro intento. Muitos Parabéns!

Depois desta hora menos boa, pôde o Grupo recompor-se nesse mesmo dia, confraternizando com esse nosso grande forcado que é o Manuel Quintella no dia do seu casamento com a Mónica.

Nem uma semana depois, tinha o Grupo um novo desafio, no dia 5 de Outubro, na Chamusca, numa corrida integrada no certame “Eh Toiro”. Toiros anunciados de Charrua para Manuel Telles Bastos, João Ribeiro Telles Jr e Duarte Pinto, Grupos de Forcados Amadores de Santarém e Aposento da Chamusca. Uma boa casa, próxima dos três quartos e um curro bem apresentado.

Para o primeiro toiro, fechado, mansote e lidado sem muita chama, mas com algum acerto pelo Manuel Telles Bastos, saltou à arena o Francisco Graciosa que citando de largo, mas não carregando a tempo e não determinando por outra forma, designadamente, à voz, mandando e templando a investida do toiro, teve que procurar fechar-se com o toiro em reuniões altas ou mesmo, passando-lhe por duas vezes ao lado. Acabou por, à quinta, e  já desta feita carregando e consentindo o toiro, ser-lhe possível fechar-se e consumar eficazmente a pega.

Para o terceiro toiro, manso e distraído, lidado por Duarte Pinto, e uma vez que um dos curtos havia sido colocado à frente do morrilho e postado no meio dos cornos durante toda a lide equestre, foi decidido tentar pegá-lo de cernelha por Emerson Kachiungo e Miguel Tavares. Alguma expectativa criada, gorada, porém, pela manifesta impossibilidade de que o toiro alguma vez encabrestasse ou permitisse a entrada do cernelheiro. Optou-se então por pegá-lo de caras, o que foi levado a efeito por forma muito eficiente por António Taurino, com uma reunião difícil, alta, e em que aquele se conseguiu recompor totalmente na córnea do toiro, com uma primeira ajuda portentosa do Manuel Lopo de Carvalho que o acompanhou numa viagem longa, colado a ele até que o toiro que fugira à sua trajectória recta foi submetido pelo Grupo. Uma pega muito rija e conseguida.

O quinto toiro, bravote e colaborante, conheceu uma lide exitosa do João Ribeiro Telles Jr, com uma lide variada e alegre, foi pegado, após brinde sentido e aplaudido à Mariana e Rita, filhas do nosso querido e saudoso Nuno Varandas, ao primeiro intento com uma reunião conseguida do David Inácio, após ter chamado de largo, recuando no tempo, e por forma equilibrada, templando a investida do toiro.

Estava o Grupo, depois de dias difíceis, regressado aos bons momentos!

O Grupo do Aposento da Chamusca merece uma especial felicitação, logrando na sua terra superar os seus opositores com brilho ao primeiro intento.

Voltamos às arenas já no dia 21 em Vila Franca de Xira, na corrida de homenagem a esse grande amigo do Grupo que foi o José Palha. Que ninguém falte!

Venha vinho!

Pedro Afra Rosa

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