Relembrando as palavras do Diogo Sepúlveda aquando das comemorações do centenário, o Grupo de Santarém e os seus 100 primeiros anos pertencem a todos aqueles que de uma maneira mais ou menos significativa escreveram a sua história, desde os melhores forcados até aos que contribuíram através da sua amizade e afición. No meu caso, situo-me neste último grupo, tendo tido contudo a sorte e o privilégio de envergar a jaqueta por 2 vezes. Essas palavras representam realmente o sentimento aglutinador que se vive no Grupo de Forcados Amadores de Santarém e que explica a sua grandeza secular. Este sentimento de pertença ao GFAS fez-me responder ao desafio do meu “mate” João Grave a dar um testemunho da minha breve passagem pelo grupo. Iniciava-se a temporada de 2012 e eu era já cavaleiro de alternativa, tirada no ano antes na nossa Celestino Graça e a desenvolver um trajecto no qual me orgulhava muito e me motivava diariamente. Na altura, por forma a dar primazia à conclusão da faculdade, forcei-me a fazer uma pausa na minha actividade tauromáquica. Nessa altura tinha eu 22 anos e um grande role do meu círculo de amigos pertenciam ao Grupo de Santarém, o que me fazia estar “por dentro” do grupo há já algum tempo. Lembro-me bem de, algures em Janeiro, estarmos a incentivar o Ruben Giovety (que viria a tornar-se um forcado referência poucos anos mais tarde) a ir treinar ao grupo e dar por mim a pensar porque não seguia também eu esse instinto que tanto me ardia cá dentro. Vivia há 10 anos embrenhado numa actividade que adorava e que me realizava acima de qualquer outra coisa, no entanto, cada personalidade é distinta das demais e o meu sentido de amizade, a ânsia constante de desafios, a rebeldia da idade e sobretudo, o enorme fascínio em sentir-me parte de um colectivo com o qual eu me identificava genuinamente, falaram mais alto. Foram 8 meses incríveis, de treinos, ferras, almoços, passeios a cavalo, cortesias em Vinhais, uma 2ª ajuda ao Lourenço Ribeiro em Marco de Canaveses, duas rabejações aos Sorraias pegados pelo António Goes e pelo António Taurino, jantares e pequenos almoços, muitas músicas, uma cicatriz no queixo em Galeana e muitos kms a jogar ao quizz taurino, constroem em 8 meses muitas histórias por este país fora. Penso muitas vezes que se eu tive meses disto, qual não será a riqueza das centenas de jovens valentes que dedicam anos a esta bonita arte. Tive o privilégio de o Diogo me conhecer muito bem e saber conduzir este meu percurso com sabedoria e sensibilidade. No mês de Agosto em que me fardo, tinha também já corridas agendadas e acabei por findar a minha passagem activa pelo grupo, regressando ao outro lado da trincheira. Ter estado, durante esse tempo, longe da porta dos cavalos, encostado ao burladero entre os curros e a inteligência, entre amigos, fizeram-me ver a corrida de toiros à portuguesa por outro prisma e, acima de tudo, enriqueceu profundamente a minha personalidade. Num documentário recente da Netflix sobre a carreira de Michael Jordan (“The Last Dance”) é relatada a sua breve passagem pelo baseball, em que decidiu interromper temporariamente a sua brilhante carreira no basquetebol para se poder encontrar novamente como pessoa e atleta. É de exemplos de sucesso destes, que retiramos inspiração e motivação para, à nossa escala, enfrentarmos os nossos desafios diários. Assim como o meu ídolo Air Jordan precisou do baseball a dada altura do seu percurso, eu também naquele ano de 2012 precisei do Grupo de Santarém. E o grupo esteve lá. Agora resta-me estar aqui, para sempre, para o que o Grupo precisar! Tomás Pinto |