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Mensagem do antigo cabo do Grupo Carlos Grave.

Quando me pediram para escrever qualquer coisa sobre o G. F. A. S., comecei a andar preocupado, porque tenho consciência que opinar sobre o nosso Grupo é algo que não se deve fazer de qualquer forma, e, o pior de tudo é que dotes de escritor, é mais uma das qualidades que não tenho. Peço, portanto, desculpa pelo “Português” por mim apresentado, mas como quem não tem técnica gramática, tem uma solução: é deixar o coração falar!. É isso que vou fazer.

Em muitas alturas da minha vida, tive dúvidas sobre o que fazer, dizer, aconselhar, posições que deveria tomar, etc. Às vezes tomava posições depois pensar bem, ponderar bastante o assunto, etc. Outras vezes era mais impetuoso e fazia aquilo que o coração mandava. Das inúmeras coisas que aprendi no nosso Grupo, foi a cultivar e a viver a amizade verdadeira e sã entre todos nós. Talvez por isso, no seio do Grupo, evitei sempre ser actor, ou seja, representar algo que deveria ser, mas que eu não sentia. Uma das características que quis dar às minhas relações humanas, foi a de que as pessoas que comigo se relacionam, facilmente se apercebem da minha forma de ser.

Aprendi no nosso Grupo a ter identidade e a respeitar cada um como é. É lógico que se pertencemos ao mesmo Grupo, temos de comungar de forma geral dos mesmos princípios, o que não significa que sejamos todos “clones” da mesma opinião em todas as matérias.

O G.F.A.S. tem uma posição singular na forma como tem defendido e cultivado, ao longo da sua vida, a maneira de estar no meio tauromáquico. Durante a adolescência, fui-me apercebendo de toda esta realidade e, conscientemente optei por vestir a sua jaqueta. Foi aqui que aprendi toda a forma de estar nos Forcados, e fui captando os valores e história do nosso Grupo.

A certa altura, quiseram os elementos do Grupo, que fosse eu o Cabo. Confesso que não me agradou a ideia. Tinha apenas 23 anos, e não era nenhum “santo”, pois fazia tudo aquilo que qualquer rapaz relativamente endiabrado faz nestas idades. Ao mesmo tempo era um desafio enorme para quem vivia o Grupo com a intensidade que eu o fazia. Foi uma experiência de vida fantástica. Fiz o possível por respeitar, defender e transmitir os valores que considerava serem a chave da nossa afirmação como Grupo de Forcados Amadores. Houve vezes que vacilem entre posições possíveis de tomar, e nestas alturas deixei o coração mandar! Mas como tinha o Grupo no coração, penso que normalmente decidia para o nosso bem!

Como Cabo, tive a preocupação de transmitir confiança, tranquilidade e respeito aos forcados. Ficava, naturalmente, contente quando as actuações corriam bem. Quando não eram boas tinha que chamar a atenção a este ou aquele forcado, mas com o andar dos tempos, cada vez me custava mais criticar o forcado que tinha estado menos bem nesse dia. Eu não concebo que alguém faça as coisas mal de propósito. Acho que ele será quem mais triste e desiludido fica numa situação destas. Será justo, tratar duma forma por vezes dura os que falham pontualmente, a pensar apenas na imagem do Grupo? E os valores que dizemos defender? Quando uma pessoa ganha, tem todo o mundo do seu lado, dando parabéns, etc. Não devemos esquecer o reverso da medalha. É quando perdem que os nossos amigos precisam de nós! Nesse dia não podemos voltar-lhes as costas !

O G.F.A.S. é frequentemente considerado como uma referência entre os outros Grupos de Forcados. E porquê? Na minha modesta opinião não será por ter melhores Forcados, por fazer melhores pegas, etc., mas sim pela conduta que tem assumido ao longo da sua vida, e que tem conseguido manter através de conturbados períodos da nossa história recente.

O facto de escolhermos os Grupos com quem queremos pegar, na minha forma de ver tem sido um factor dinamizador da nossa forma de estar e agir, o que muito nos alegra. Hoje, graças a Deus, há muitos Grupos com posições e condutas dentro da linha que defendemos. Atrevo-me a presumir que tivemos responsabilidades nesta realidade.

Habituámo-nos a ouvir nos discursos no nosso Grupo que aqui é que havia bons forcados, boas pegas, etc. Felizmente hoje pega-se bem em muitos Grupos. Não sei se é no G.F.A.S. que se pega melhor. Isso não me interessa, ou por outra, não é o mais importante. O que torna o nosso Grupo diferente é outra realidade. Os valores aqui cultivados e vividos são a nossa “marca”. Não tenham medo de defendê-la e divulgá-la. Temos de ficar contentes quando os outros têm êxito por terem ideais do género dos nossos.

Outra coisa que penso ser muito boa dentro do G.F.A.S. é ter algumas “bandeiras”, que continua a defender e orgulhar-se até hoje. Por exemplo: o facto de nunca termos deixado ir um toiro “vivo” para dentro é uma realidade. Por mais que haja alguém que diga que isto não é verdade, é realmente um facto que nunca aconteceu no nosso Grupo. Houve sim uma vez que um toiro não pôde ser pegado por se ter “desembolado”, e o director de corrida o ter mandado recolher. Isto não é um toiro “vivo”.

O que penso a este respeito é o seguinte: Não devemos dizer “desta água não beberei!”, mas sim “desta água vou tentar não beber!”, ou seja, se isso um dia vier a acontecer, um toiro conseguir destruir o G.F.A.S. e recolher vivo aos currais, pois que vá, porque venceu. Mas as pessoas hão de olhar para a trincheira e não ver ninguém do G.F.A.S. em pé, por todos se terem batido até ao limite das suas forças. Resumindo: duas coisas vivas ao mesmo tempo, toiro e G.F.A.S. vamos fazer tudo para que não aconteça! Digam lá se este não é um exemplo daquilo que devemos defender e cultivar? Não se ralem se vos chamarem “caretas”, “cotas”, “básicos”, “retrógrados”, “marialvas”, etc. Não se esqueçam que hoje usufruímos dum estatuto que o G.F.A.S. tem, porque houve alguém que fez a sus história. Esse alguém foram todos os antigos forcados que por cá passaram.

Sinto-me reconfortado quando estou convosco nos jantares e vejo que defendem princípios que há vinte anos os forcados do meu tempo defendiam, porque por sua vez eles já existiam quando chegámos ao Grupo. E assim se faz história...

Não se esqueçam! Todos nós um dia vamos morrer! mas o G.F.A.S. vai cá ficar. Vamos, portanto contribuir para que o Grupo continue sem precisar do nosso vedetismo.

Está nas vossas mãos, forcados actuais, a conduta do Grupo nos dias de hoje. Têm de saber evoluir naquilo que os tempos pedem, mas ao mesmo tempo peço-vos que preservem o nosso carácter. Aproveitem o Cabo que temos, porque encarna com um equilíbrio notável todo este conjunto de sentimentos e valores que têm feito o nosso Grupo ocupar a vanguarda dos Grupos de Forcados em Portugal.

Évora, 12 de Fevereiro de 2006

Carlos Grave

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