Praça do Sítio da Nazaré, bancadas practicamente cheias. Nesta Praça, o calor costuma vir do público que contrasta com a meteorologia e temperaturas habituais. Na noite de 18 do mês mais taurino do ano foi o contrário: temperatura bastante amena e público com poucas possibilidades de aquecer. Amigos e antigos forcados do Grupo com presença assinalável nas bancadas, vindos das estâncias balneares vizinhas. Concurso de ganadarias com toiros sem pesos exagerados e adequados à praça em causa e à dimensão da arena. Ganadarias de importância e tradição: Palha, Prudêncio, David Ribeiro Telles, Herdeiros de Infante da Câmara, Oliveira e Irmãos e Eng. António Silva. Cartel formado por uma mistura de juventude e experiência e de clássico e popular: Rui Salvador, Sónia Matias, Filipe Gonçalves, Marcos Bastinhas, Duarte Pinto e Tiago Carreiras. 2 grupos de forcados de topo – Santarém e Montemor – que quando se encontram deixam sempre a certeza de concorrência e do saber estar em praça. E se a noite foi fria, em muito se deveu ao comportamento dos toiros, mansos quase todos, embora, na generalidade, também encastados. Foi bravo o do Eng. António Silva – que ganhou o concurso - e de bom comportamento o vindo da Torrinha. Foi uma corrida decepcionante em termos de toiros, com a agravante de se tratar de um concurso de bravura, onde a expectativa sobre o comportamento dos mesmos é, naturalmente, maior. Sem dúvida que os toiros não ajudaram, mas para se conseguir ser figura é fundamental saber também tourear os mansos. E para tourear mansos, para verdadeiramente os lidar, os números ensaiados em casa são recursos escassos. Assim, da parte equestre, para mim, o pouco que fica, são um par de ferros que a Sónia Matias conseguiu colocar a um toiro que queria tudo menos ver cavalo, e que a obrigou a entrar nos terrenos para cravar; uma lide do Filipe Gonçalves a um toiro razoável/bom de David Ribeiro Telles, onde misturou variedade de sortes e boa brega que chegou ao público; e finalmente, a actuação do Tiago Carreiras ao mais bravo da noite, que valeu mais pelo toiro que pela lide em si. Os restantes estiveram, na minha opinião, abaixo do mínimo exigido a profissionais. Outro facto que não posso deixar passar sem referir é a actuação dos bandarilheiros. Que dizer quando um toiro passa mais pelo capote do subalterno do que pelo cavalo do toureiro. Não duvido que a culpa está toda do lado dos cavaleiros que usam e abusam do capote dos bandarilheiros para colocar o toiro, partir o toiro, cansar o toiro, etc. Enfim, tudo aquilo que deviam eles fazer: lidar. Finalmente os forcados, a principal razão deste texto. Deixo a análise técnica para quem de direito e de conhecimento suficiente, que não é, claramente, o meu caso. Os toiros eram mansos? Eram. Que fizeram os cavaleiros na sua maioria? Usaram e abusaram dos bandarilheiros, não os lidaram e andaram ao largo, nunca de frente. Que fizeram os forcados? Foram figuras e pegaram-nos de frente e dando vantagens, como se faz aos bravos! O que lhes aconteceu? Umas vezes tiveram sucesso, outras não, pegaram-nos à primeira ou partiram braços e mesmo assim avançaram para o toiro, abriram lenhos na cara, mas estiveram sempre de verdade e toureiros com os toiros. E como disse Mestre João Núncio: “o público pode não perceber, mas apercebe-se”. E na Nazaré apercebeu-se de quem esteve de frente com os toiros. Assim, para mim: Felizmente há forcados para que saibamos que não estamos numa corrida apeada, onde os principais protagonistas estão de trastes em punho. Felizmente há forcados para que saibamos que não estamos a assistir a uma corrida de rejoneio, onde ferros ao estribo são a excepção. Felizmente há forcados para mostrar que em Portugal se encara o toiro de frente e sem enganos. Pegou o primeiro da corrida e do Grupo o António Imaginário, vulgo Jorginho, à terceira. Um Palha, mesmo com quatrocentos e tal quilos é sempre um Palha e a margem de erro é pouca. O António Jesus à primeira com um brinde que foi um dos momentos altos da noite para a família do Grupo de Santarém. O toiro do Mestre David não complicou e o António também não, o que às vezes não é fácil. E finalmente o Pauleta a resolver à primeira, a dobrar o João Goes que foi ao toiro duas vezes, sendo que a segunda já de braço partido. Estava o João Goes em grande forma e é uma pena que não siga a temporada. Que se ponha bom rapidamente. Pegaram pelo grupo de Montemor, o Francisco Borges à primeira, o António Vacas de Carvalho à terceira e o João Tavares à primeira. S. Martinho do Porto, 20 de Agosto de 2012 Bernardo Figueiredo |