Deixou-nos hoje de forma completamente inesperada o 5º cabo do Grupo de Forcados Amadores de Santarém Carlos da Gama Empis. Um Homem maior do que a vida. Natural do Porto de Muje e agricultor por vocação. Foi Cavaleiro Praticante e um equitador de excelência. Foi Cabo do Gupo de Santarém entre 1979 e 1981, embora líder oficioso muito antes disso, função que assumiu natural e consensualmente pelo seu carisma e conhecimento. Apoderado de algumas das maiores figuras do Toureio (João Moura, Emídio Pinto, João Salgueiro, Vitor Ribeiro, Tomás Pinto) e empresário de várias Praças de Toiros, desde Santarém, Campo Pequeno, Nazaré e Moita. Organizador e mentor das Feiras do Toiro, em Santarém. Conhecedor do Toiro e do fenómeno dos Forcados como poucos… Muito haverá certamente por escrever sobre a vida ímpar de Carlos Empis e a sua ligação à tauromaquia. Assim escreveu a Escritora Maria João Lopo de Carvalho, no livro Grupo de Forcados Amadores de Santarém - Os Primeiros 100 Anos": "Ganadarias ocupadas, corridas difíceis e o Grupo de Santarém sempre confiante e unido, tanto nos triunfos como na adversidade. É este o Grupo que Carlos Empis comanda por três temporadas, de 1979 a 1981.Este período é marcado pelo conhecimento que Carlos Empis incute como cabo do Grupo. Conhecimento dos toiros, da Festa e dos amigos. Antes de se estrear como forcado, Carlos Empis é cavaleiro amador e está talvez destinado a prosseguir esse caminho de forma profissional. Porém, a sua afición cruza-se com o Grupo de Forcados Amadores de Santarém, então capitaneado por Ricardo Rhodes Sérgio. O tal destino troca-lhe as voltas. Aprendera a montar com o padrinho, Fernando Salgueiro, e todos os registos dão conta de uma carreira promissora, embora fugaz. Empis teve a oportunidade de partilhar cartel com grandes nomes: Mestre João Núncio, João Moura (de quem se torna mais tarde, apoderado), entre muitos outros. Não faltam acesas memórias de tardes em que, tendo toureado a cavalo, acaba por trocar a casaca e tricórnio pela jaqueta e barrete, e ajuda o Grupo de Santarém a pegar toiros de cernelha. No Cartaxo, em 1969, pega com Carlos Garcia dos Santos um toiro que ele próprio havia toureado minutos antes. Em Portalegre, no ano seguinte, ajuda Francisco Moura a cernelhar um toiro toureado por João Núncio que se revela muito complicado. Originalmente, Carlos Empis entra para o Grupo como cernelheiro e logo dá nas vistas. Estreia-se em Salvaterra de Magos, a 30 de Abril de 1969, pegando um toiro de cernelha rabejado por Luís Sepúlveda. Só mais tarde, depois de Carlos Garcia dos Santos partir para a guerra do Ultramar, começa a afirmar-se como rabejador. E que rabejador! 'Para além de ser um grande cernelheiro e rabejador, incutia no Grupo uma grande segurança e confiança. Transmitia e tinha uma serenidade e um senhorio em praça inigualáveis.' (José Lebre) ´Eramos muito cúmplices e pouco precisávamos de falar. Sentíamos o apoio um do outro e sobretudo havia grande tranquilidade em praça, tranquilidade essa que era transmitida pelo Carlinhos. Nunca o vi stressado ou desorientado, estava sempre acima do problema' (Peu Torres) 'O Carlos Empis sabia jogar com os equilíbrios do toiro de tal forma que este não se mexia. Era de uma eficiência fora do normal'. (Pedro Balé) 'Nunca me imaginei como cabo do Grupo e só o fui com o compromisso de ficar apenas por 2 anos'. Mas a verdade é que, nos últimos tempos do José Manuel Souto Barreiros a cabo, é já Carlos Empis que de facto comanda o Grupo. De tal forma que a sucessão é vista por todos como natural. Aliás, não há no grupo quem não lhe reconheça o conhecimento profundo da Festa. Na Festa em todas as suas vertentes, é um aficionado de mão cheia. 'Mercê das suas qualidades de forcado e condutor de homens, tomou a chefia do Grupo com grande dignidade'. (José Tello Barradas) 'O Carlos preocupava-se em conhecer os toiros que íamos pegar e tinha muito critério na forma como os destinava.' (Francisco Sepúlveda) 'Sobretudo um grande amigo e companheiro que nos conhecia a todos muito bem. Dentro de praça era reservado e transmitia-nos muita segurança.' (Peu Torres) 'O Carlos era um cabo muito entendido e tinha uma forma diferente de lidar connosco. Saltávamos para a praça e não olhávamos para trás, nem para a trincheira. Sabíamos o que estávamos a fazer. Não havia conferências, nem reuniões, e tínhamos toda a confiança do cabo e do Grupo para fazer como julgássemos melhor.' (Francisco Gameiro) 'Em vez de nos dizer o que havíamos de fazer, dizia-nos o que é que o toiro nos poderia fazer… O que faz toda a diferença!' (Pedro Balé) 'Se um de nós se portava mal ia para a prateleira, tinha um grande grupo de forcados e podia dar-se ao luxo. Sabia ensinar a pegar e escolhia sempre quem garantisse maior êxito, com grande sentido de espetáculo.' (Manuel Goes) 'Carlos Empis foi o cabo mais completo que tive, e no seu tempo só pegavam os melhores, ponto final.' (Carlos Ferreira) 'Tínhamos feitios opostos. Houve um ano que nunca me fardou, apesar de eu me apresentar em todas as corridas. Quando fomos a França, peguei quatro toiros em quatro dias seguidos, e chegados a Portugal, nessa época passei a pegar com regularidade. E aí acabaram-se as desavenças!' (Miguel Fernandes) 'Para além de outras qualidades, era muito ligado ao meio taurino, e muito focado nos problemas das corridas, das ganadarias e dos empresários.' (José Carrilho) Um bom cabo tem de ser conhecedor de toiros, dos seus terrenos, das suas reacções. Mas não pode deixar de ter um conhecimento profundo sobre cada um dos forcados que lidera, das suas forças e fraquezas. Da conjugação desses dois conhecimentos depende o sucesso ou insucesso de cada actuação. 'Cada um tinha as suas características e todos queriam actuar, pelo que tive de tentar fazer as escolhas certas e gerir as expectativas de cada um, sem nunca esquecer que o sucesso do Grupo de Santarém estava em primeiro lugar.' (Carlos Empis) 'O Carlos tem uma grande facilidade na apreensão das características dos toiros, e é um condutor de homens por natureza.' (Manuel Goes) 'O Carlos Empis era único na forma como acompanhava os treinos, como destinava os toiros dentro da praça aos forcados e ajudas. Para mim, é o melhor cabo no que diz respeito ao conhecimento do toiro.' (Pedro Balé) Enquanto cabo, o Carlos pode dispor de um Grupo unido e de grande qualidade, desde logo: António José Correia, António Mexia de Almeida, António Narciso, António Paim, Carlos Ferreira, Carlos Grave, Domingos Figueiredo (Graciosa), Domingos Megre, Eduardo Ribeiro de Almeida, Fernando Navalhinhas, Francisco Bragança, Francisco Gameiro, Joaquim Grave, Joaquim Pedro Torres, João Grave, João Mexia de Almeida, José Carrilho, José Gouveia, José Figueiredo (Graciosa), José Miguel Mexia de Almeida, José Megre, José Pedro Neto, Luís Gameiro, Luís Torres Pereira, Manuel António Lopo de Carvalho, Manuel Goes, Manuel Paim, Miguel Fernandes, Nuno Megre, Pedro Afra Rosa, Pedro Mascarenhas, Pedro Schiappa Cabral e Vasco Fernandes. Nas temporadas em que Carlos Empis é cabo, o Grupo pega trinta e cinco corridas em Portugal e sete em França: Oito corridas em Santarém e oito no Campo Pequeno. Quatro em Cascais e quatro em Almeirim. Duas na Moita. Uma nas praças do Cartaxo, Évora, Figueira da Foz, Nazaré, Portalegre, Santa Eulália, Viana do Castelo, Vila Franca de Xira e Vila Nova da Barquinha. Em França, o Grupo actuou nas praças de Arles, Port de St. Louis, St. Marie de la Mer, La Grau du Roi, Beaucarie, Palavas e Cap d'Adge. Os forcados que mais pegam nestes anos são Peu Torres e Carlos Empis de cernelha e, de caras, Nuno Megre, António Narciso, Carlos Ferreira, Pedro Balé, Manuel Paim, Francisco Gameiro, Miguel Fernandes, Jana Grave, Fernando Navalhinhas, José Miguel e Nico Mexia, Manuel Goes e Miguel Fernandes. Dada a consistência do grupo nestas épocas, e a quantidade imensa de bons forcados de caras, há sempre uma enorme vontade de pegar corridas de seis toiros, o que nem sempre se revela possível. Ainda assim, nestes dois anos, o grupo pega sozinho doze corridas de seis toiros, que atestam, sem margem para dúvidas, a valia desta geração." Do seu casamento com Maria do Rosário Camões nasceram Francisco e Maria Empis. Francisco foi um importante forcado activo do Grupo de Santarém desde 1996 a 2006 e actualmente integra a Associação Praça Maior. Carlos Empis fardou-se a última vez no dia 6 de junho de 2015, na Corrida Comemorativa do Centenário do Grupo de Forcados Amadores de Santarém, na Praça de Toiros Monumental Celestino Graça, onde rabejou o sexto e último toiro. Figura maior que deixa um legado para sempre gravado na ramagem da jaqueta do Grupo de Santarém. Que descanse em Paz. |